Enquanto taxa de suícidio no Brasil é de 5 por 100 mil pessoas; entre índios sobe para até 30; especialistas vão ao Congresso cobrar medidas preventivas para reduzir incidência

O suicídio de índios no Brasil chega a ser seis vezes maior do que a taxa nacional e preocupa especialistas. Dados do Mapa da Violência, do Ministério da Saúde, mostram que, enquanto o índice geral no Brasil é de 5,3 suicídios por 100 mil habitantes, a incidência sobe para acima de 30 em alguns municípios com população indígena.

“O que está acontecendo é um verdadeiro extermínio destas populações”, afirma o médico Carlos Felipe D’Oliveira, da Rede Brasileira de Prevenção do Suicídio. O tema foi assunto de palestra no Fórum Brasileiro sobre Suicídio e, no início do próximo ano, será encaminhada uma minuta pedindo ações de prevenção para a Comissão de Seguridade e Família do Congresso Nacional.

Dados do Mapa da Violência mostram que, na região Norte, os suicídios passaram de 390 em 2002 para 693 em 2012: aumento de 77,7%. Amazonas, Roraima, Acre e Tocantins quase que duplicam o índice.

De acordo com o estudo, alguns dos municípios que aparecem no topo da lista de mortalidade suicida são locais de assentamento de comunidades indígenas, como São Gabriel da Cachoeira (AM), São Paulo de Olivença (AM) e Tabatinga (AM), Amambai (MS) Paranhos (MS) e Dourados (MS).

“Normalmente, o que vemos é que os locais com maior taxa de suicídio de índios são justamente aqueles mais desassistidos, com alto índice de desemprego, uso de álcool, drogas e muito conflito”, afirma D’Oliveira.

Dados oficiais da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) registram 73 casos de suicídio de indígenas só em Mato Grosso do Sul, em 2013 – o maior índice em 28 anos. Dos 73 indígenas mortos, 72 eram do povo Guarani-Kaiowá.

De acordo com o antropólogo Spensy Pimentel, que estuda a cultura dos índios Guarani-Kaiowá em Mato Grosso do Sul, a tragédia referente ao suicídio indígena no Brasil não é recente. “Isso já acontece há mais de 30 anos. A questão nunca cessou. O tema só está vindo mais à tona por causa de maior transparência dos órgãos”, disse. De fato, os dados mostram que o problema não é de hoje. De 2000 a 2013, só no Estado de Mato Grosso do Sul foram registrados 659 casos de suicídio de indígenas.

O antropólogo ressalta que os suicídios como epidemia começam quando o processo de confinamento dos Guarani-kaiowá se conclui, no final dos anos de 1970. “Individualmente, o suicídio tem as mais variadas motivações. Mas, na maioria das vezes, os pequenos conflitos familiares que levam um jovem a tomar a decisão de tirar a vida estão relacionados à falta de terras”, disse.

Segundo o Censo Demográfico de 2010 havia um total de 821,5 mil indígenas, o que representa 0,4% da população total do País. O suicídio indígena representa 1,0% da população total. Ao fazer a mesma comparação, só no Estado do Amazonas, onde a população indígena representa 4,9% da população total, 20,9% dos suicídios ocorre entre indígenas. Em Mato Grosso do Sul, a taxa é ainda mais preocupante. Pelo Censo de 2010, eles são 2,9% da população, mas respondem por 19,9% nos suicídios.

Confira aqui todos os Mapas da Violência desde 1998.

Por Maria Fernanda Ziegler

Foto da capa: Adital

Poratl iG, 08/10/2014