Em reunião dos ministros da Agricultura do G20, em Niigata, no Japão, o chefe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, alertou na sexta-feira (11) para o que descreveu como uma “globalização da obesidade”. Atualmente, mais de 2 bilhões de pessoas no mundo estão acima do peso. Mais de 670 milhões delas são obesas.

De acordo com a FAO, a obesidade agrava os riscos de doenças crônicas como diabetes, hipertensão, problemas cardíacos e algumas formas de câncer. Projeções sugerem que o número de pessoas obesas no planeta deve ultrapassar em breve os 821 milhões de indivíduos que sofrem com a fome. A inversão já foi registrada na América Latina e Caribe.

“A fome é o pior tipo de desnutrição e deve ser enfrentada, mas temos que ter em mente que outras formas de desnutrição, como a obesidade, também estão causando danos cada vez maiores e graves à humanidade”, ressaltou Graziano da Silva na reunião com lideranças do G20.

Para o dirigente, a obesidade deve ser combatida por meio de fortes parcerias público-privadas. “Para abordar os problemas interligados da fome, obesidade e mudanças climáticas, a comunidade internacional precisa introduzir normas e padrões que transformem os sistemas alimentares, de modo que eles forneçam, de maneira sustentável, alimentos saudáveis ​​e nutritivos para todos”, cobrou o chefe da FAO.

O especialista explicou que os atuais sistemas alimentares estão deixando de oferecer às pessoas alimentos saudáveis ​​e os nutrientes necessários em uma dieta adequada.

“Como resultado, as pessoas estão comendo cada vez mais”, disse o dirigente da agência da ONU, que explicou que os atuais desafios de nutrição envolvem não apenas a disponibilidade de comida para todos, mas também a garantia da qualidade no que chega ao consumidor.

“Embora a fome esteja principalmente circunscrita às áreas afetadas por conflitos ou pelos impactos da mudança climática, a obesidade está em toda parte: estamos testemunhando sua globalização”, acrescentou Graziano.

Oito dos 20 países com as maiores taxas de aumento da obesidade adulta estão na África. No mundo, das 38 milhões de crianças com excesso de peso, na faixa etária abaixo dos cinco anos, quase metade está na Ásia.

Em nível global, o sobrepeso e a obesidade têm um custo exorbitante para a saúde e em perdas de produtividade — os prejuízos são estimados em 2 trilhões de dólares por ano. O montante é equivalente ao impacto do tabagismo ou dos conflitos armados.

Papel das empresas

Na visão da FAO, promover uma boa nutrição e dietas saudáveis ​​não é uma tarefa individual, mas uma responsabilidade pública, que não se limita aos governos.

“Somente com o envolvimento do setor privado e da sociedade civil esta questão séria pode ser resolvida. Para regulamentar sistemas alimentares sustentáveis ​​para dietas saudáveis, ​​é preciso o apoio da indústria alimentícia”, afirmou Graziano.

O chefe da FAO citou o exemplo do Chile, onde relatos sugerem que a adoção de um sistema mais claro de rotulagem de alimentos levou à redução da obesidade entre crianças.

Inteligência artificial

Graziano disse ainda que são essenciais os avanços em inovação agrícola, capazes de lidar com as mudanças climáticas e apoiar os agricultores familiares. O uso de tecnologias e métodos novos de organização da produção foi considerado fundamental pelo dirigente para garantir o cumprimento, até 2030, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

“Inovar para os agricultores familiares e abordar os fatores que impedem as transições para sistemas agroecológicos diversificados deve se tornar uma prioridade maior. A tecnologia sozinha não pode fornecer respostas para os desafios globais nem capacitar os agricultores familiares, mas pode aumentar as opções e facilitar a implantação de soluções eficazes”, defendeu Graziano.

O especialista lembrou as possibilidades associadas à inteligência artificial, à edição de genoma e às tecnologias de contabilidade distribuída. Segundo o chefe da FAO, é necessário assegurar que a tecnologia atenda aos pobres, visando ao desenvolvimento inclusivo, e seja usada para ensinar as pessoas a lidar com riscos e vulnerabilidades.

Graziano deu o exemplo do Nuru, um aplicativo para smartphone desenvolvido pela FAO em cooperação com a Universidade Estadual da Pensilvânia para lidar com a rápida disseminação da lagarta do outono. Essa praga apareceu pela primeira vez no oeste da África, em 2016, e depois se espalhou rapidamente por todos os países da África Subsaariana, infectando milhões de hectares de milho e ameaçando a segurança alimentar de mais de 300 milhões de pessoas.

“O Nuru é baseado no aprendizado de máquina e em inteligência artificial. Ele é executado dentro de um telefone Android padrão e pode funcionar também offline”, explicou o dirigente da agência da ONU.

“Com o Nuru, os agricultores podem segurar o telefone ao lado de uma planta infestada, e o aplicativo pode confirmar imediatamente se a lagarta causou o dano. Eles podem tomar medidas imediatas para destruí-la e impedir sua disseminação.”

 

Fonte: ONU