Que país queremos construir? Quais passos são necessários para alcançar o patamar desejado? Qual deve ser o papel do Brasil no mundo? Essas são algumas das questões que precisam ser consideradas no planejamento estratégico de políticas públicas de longo prazo. Elas são o ponto de partida para o livro “Brasil 2035: Cenários para o Desenvolvimento”, lançado pela Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Planejamento e Orçamento (Assecor) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), na última quinta-feira, 22 de junho, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. O evento reuniu representantes de instituições que atuaram como parceiras no projeto – como a Fiocruz, por meio da rede Brasil Saúde Amanhã – em uma noite de discussão sobre futuro e prospecção estratégica.

“Não existe história linear. Ao pensarmos o futuro e as tendências, imediatamente ressaltamos a responsabilidade do presente. Quando nos debruçamos sobre cenários prospectivos de forma não determinista e não fatalista, compreendemos que nenhum estudo de cenário é neutro, uma vez que consideramos o horizonte no qual se quer chegar”, afirmou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima. “Uma questão central que precisa ser sempre colocada em discussão diz respeito ao projeto de país que levaremos ao futuro e qual é o papel da Saúde neste projeto”, ressaltou.

Os estudos prospectivos de futuro assumem, assim, o papel de qualificar o debate político e social, oferecendo uma análise sólida e consistente dos custos e benefícios das escolhas tomadas no Legislativo e Executivo, como destacou Edison Benedito da Silva Filho, pesquisador do Ipea. “Questões precisam ser colocadas para que a sociedade tenha capacidade de fazer suas escolhas da forma mais consciente possível e com maior acesso à informação. Somente dessa forma que conseguiremos estabelecer o caminho para o desenvolvimento dentro de um debate democrático”, apontou.

Marcos Degaut, secretário especial adjunto da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo  Federal (SAE), apontou como obstáculos a uma ação mais contundente a carência de recursos financeiros e a reduzida cooperação entre as instituições – tanto públicas quanto da sociedade civil. “A SAE deve atuar de forma a aproveitar o conhecimento produzido, verificar a compatibilização dos projetos das diversas áreas, eliminar sobreposições, otimizar recursos, dar andamento a projetos importantes que estão parados e fazer com que os atores dialoguem entre si. É preciso planejar e acabar com o improviso”, ressaltou Degaut durante o evento.

É importante, também, que as reflexões e ações não se limitem às esferas institucionais e cheguem à população. Para isso, iniciativas como este livro e outras ações promovidas pelo Museu do Amanhã são fundamentais. Além de sediar o evento, o espaço apresenta, em seus corredores, macrotendências e cenários para os próximos 50 anos. “Buscamos levar os visitantes a refletirem que o amanhã está em construção a partir das atitudes tomadas no presente. Hoje é o tempo da ação. A propagação do conhecimento é essencial para promover o engajamento da população”, destacou Alfredo Tolmasquim, diretor de conteúdo do Museu do Amanhã.

A pesquisa por trás do livro

O projeto Brasil 2035 surgiu da parceria entre a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Planejamento e Orçamento (Assecor), o Ipea e o Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI. O objetivo foi o de identificar elementos que subsidiassem a formulação de estratégias de desenvolvimento para o Brasil, tendo o ano de 2035 como horizonte temporal. As informações necessárias para essas escolhas são fornecidas por quatro cenários exploratórios construídos durante a execução do projeto, resultado de dois anos de trabalho. Esses cenários foram construídos considerando-se quatro dimensões: social, econômica, territorial e político-institucional, a partir do olhar multidisciplinar das dezenas de instituições governamentais e da sociedade civil que participaram das pesquisas. A Rede Brasil Saúde Amanhã contribuiu para as cenas desenhadas para a Saúde no Brasil em 2035, em cada um dos quatro cenários.

“O projeto seguiu as etapas tradicionais de construção de cenários e adotou algumas inovações, como a utilização de várias ferramentas da prospectiva advindas de métodos diferentes, o que proporcionou uma maior compreensão das sementes de futuro levantadas. Também foi um processo altamente participativo, envolvendo 30 instituições parceiras e cerca de 880 especialistas, tanto no formato presencial quanto à distância. E sua principal inovação foi a construção de cenas específicas, tomando como base os cenários construídos para o Brasil”, explicou Elaine Marcial, especialista em cenários prospectivos e inteligência competitiva e coordenadora do projeto.

A dimensão da Saúde é considerada chave na construção de um país desenvolvido. “Neste horizonte de longo prazo, considerando o envelhecimento populacional e as desigualdades sociais e econômicas, teremos que tratar uma população envelhecida e redistribuir os recursos de uma maneira mais justa e equitativa, superando a iniquidade. Para isso, é preciso promover também uma retificação na construção da capacidade produtiva e tecnológica do setor Saúde”, pontuou José Carvalho de Noronha, coordenador executivo da rede Brasil Saúde Amanhã, durante o lançamento do livro.

“O pressuposto da iniciativa Brasil Saúde Amanhã como horizonte desejável é o de que valha a sinonímia de que saúde é vida e de que todos devem ter iguais oportunidades, com um desenvolvimento justo e sustentável. O cenário desejado é o de que o acesso a bens e serviços não seja definido pela capacidade de pagar por eles e, sim, pela necessidade de obtenção deles. Consideramos viável a reversão da profunda iniquidade, embora 20 anos seja um prazo curto para isso”, concluiu Noronha.

O conteúdo integral do livro e informações sobre o processo de pesquisa e produção de cenários está disponível em http://www.brasil2100.com.br

Renata Leite
Saúde Amanhã
27/06/2017