O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil apresentou melhora em 2013, confirmando uma trajetória de crescimento constante durante as últimas três décadas. As evoluções nas três dimensões do índice (vida longa e saudável, educação e padrão de vida decente) mostram uma convergência rumo a uma maior harmonização do desenvolvimento humano no Brasil, ao longo dos anos. Os dados fazem parte do Relatório do Desenvolvimento Humano 2014, lançado pelo PNUD nesta quinta-feira (24/7) em Tóquio, no Japão.

Com um IDH de 0,744, o Brasil melhorou uma posição em relação a 2012 no ranking de países, aparecendo agora em 79º entre os 187 países e territórios reconhecidos pela ONU. Este IDH é superior ao IDH médio da América Latina e do Caribe (0,740) e ao IDH calculado para os países de Alto Desenvolvimento Humano (0,735), grupo do qual o Brasil faz parte. Das 102 nações que compõem os grupos de Muito Alto e Alto Desenvolvimento Humano, apenas 18 apresentaram melhora no ranking em relação ao ano anterior, dentre as quais o Brasil.

Devido a revisões e atualizações de dados estatísticos bem como de alguns ajustes e aprimoramentos metodológicos no cálculo do IDH, é equivocado comparar valores e ranking de 2013 com os dos relatórios publicados anteriormente. Os leitores são aconselhados a avaliar o progresso no IDH referindo-se à Tabela 2 do Relatório (Tendências do Índice de Desenvolvimento Humano), no Anexo estatístico da publicação. Esta tabela é baseada em indicadores consistentes, metodologia e dados de séries temporais e, portanto, mostra mudanças reais em valores e categorias ao longo do tempo, refletindo o progresso real dos países.

Perspectiva de longo prazo

O RDH 2014 mostra, numa perspectiva de longo prazo, que o IDH do Brasil acumulou crescimento de 36,4% entre 1980 e 2013, o que representa um aumento anual médio de 0,95% no índice. Este foi o melhor desempenho entre os países da América Latina e do Caribe no período.

Isso significa que, nestas três décadas, os brasileiros ganharam 11,2 anos de expectativa de vida, viram a renda aumentar em 55,9% enquanto, na educação, a expectativa de anos de estudo para uma criança que entra para o ensino em idade escolar cresceu 53,5% (5,3 anos) e a média de anos de estudo de adultos com 25 anos ou mais subiu quase 176,9% (4,6 anos).

“É importante notar o reconhecimento do Relatório 2014 às políticas anticíclicas adotadas pelo Brasil ao longo dos últimos anos, constituindo exemplos concretos para a redução das vulnerabilidades e a construção da resiliência entre os brasileiros, principalmente os mais desfavorecidos”, avalia Jorge Chediek, coordenador residente do Sistema ONU no Brasil e representante residente do PNUD no país.

“O Brasil de hoje ainda luta para superar passivos históricos, resultados de muitos anos de descaso com o desenvolvimento humano. Mas já é possível perceber melhoras significativas no cotidiano não apenas nas três dimensões do IDH, mas em outras áreas que compõem a visão mais holística do desenvolvimento humano, como a ampliação e consolidação da universalização de serviços básicos, o aumento do nível de empregos e a diminuição do trabalho informal, entre tantas outras”, complementa.

Um equívoco comum é o de pensar que apenas os países ricos podem oferecer proteção social ou serviços básicos universais. Como o Relatório argumenta, as evidências mostram o oposto. Com exceção de sociedades em conflito violento e turbulência, a grande maioria das sociedades pode – como já vem fazendo – colocar em prática estes serviços básicos e mecanismos de proteção social, ressalta o RDH 2014. Um investimento de apenas uma pequena porcentagem do PIB traz benefícios que superam, em muito, o investimento inicial, aponta o Relatório, citando o programa brasileiro Bolsa Família como um dos exemplos.

Indicadores complementares do desenvolvimento humano

Desde 2010, o Relatório do Desenvolvimento Humano traz indicadores complementares que ajudam a ampliar a visão sobre o tema. São eles: o Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD), o Índice de Desigualdade de Gênero (IDG) e o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM). Além destes indicadores, o Relatório deste ano traz também o Índice de Desenvolvimento de Gênero, que é baseado no Índice de Desenvolvimento Humano desagregado por sexo, definido como uma relação entre o IDH para o sexo feminino e para o masculino – este último não foi calculado para o Brasil devido à falta de dados relevantes, segundo o Relatório.

O RDH 2014 aponta que a região da América Latina e do Caribe foi a que mais reduziu as desigualdades nos últimos anos, mas segue no topo da lista como a região mais desigual do planeta, quadro influenciado principalmente pelas disparidades na dimensão renda. No caso do Brasil, quando descontado o valor do IDH em função da desigualdade, o índice fica 27% menor (0,542). Mesmo com a redução significativa nos últimos anos do coeficiente de Gini – que mede a desigualdade em renda – a perda maior do Brasil dentro do IDH ainda está nesta dimensão do índice (39,7%), seguida de educação (24,7%) e da expectativa de vida (14,5%). Diferentemente do IDH, este índice ajustado à desigualdade foi calculado para 145 países, impossibilitando, portanto, a comparação com o ranking do IDH.

O Índice de Desigualdade de Gênero (IDG) do Brasil ficou em 0,441 em 2013, o que coloca o país na 85ª posição num ranking de 149 países. Já o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) do país ficou em 0,012, indicando que uma fatia de 3,1% a da população é multidimensionalmente pobre. O IPM define como multidimensionalmente pobres as pessoas que sofrem 33,3% ou mais privações entre as dez variáveis do índice divididas entre as dimensões de saúde, educação e padrão de vida.

Os dados utilizados para o cálculo do IPM são de pesquisas nacionais, dificultando uma comparação precisa entre países. No caso do Brasil, o RDH 2014 traz duas séries de dados: 2012 e de 2006. Ao comparar esta evolução, observa-se que a pobreza multidimensional caiu 29,4% (de 0,017 para 0,012), comparando os dois anos de base – quanto mais próximo de zero, menor o nível de pobreza. Já o número de pessoas nessa condição passou de 4% para 3,1%. E as pessoas vivendo próximas da pobreza multidimensional (pessoas que estão privadas de mais de um quinto, o equivalente a 25% dos indicadores abordados) caiu de 11,2% em 2006, para 7,4% em 2012.

Assim como nos relatórios anteriores, existem dois grupos de tabelas estatísticas no RDH 2014: tabelas de indicadores de desenvolvimento humano, que fornecem uma avaliação das conquistas dos países em diferentes aspectos do desenvolvimento humano, e tabelas com estatísticas utilizadas para a análise empírica sobre a parte temática dos capítulos do Relatório. Este ano, há 17 tabelas, dez delas sobre questões também relativas ao desenvolvimento humano, incluindo indicadores sobre educação, saúde, competências sociais, inseguranças pessoais, integração, indicadores ambientais e demografia, além de indicadores subjetivos de bem-estar.

Portal Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 24/07/2014