Pensar a Saúde como eixo central da recuperação econômica e social no cenário ainda incerto após a crise sanitária foi o mote do seminário on-line “O Brasil depois da pandemia: horizontes econômicos no mundo e no Brasil e o Complexo da Saúde”, promovido no dia 29 de março pela iniciativa Brasil Saúde Amanhã, no âmbito da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030. O evento foi transmitido pela VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz.
Durante o seminário, os palestrantes apresentaram cenários futuros para o Brasil e o sistema de saúde e discutiram as tendências econômicas e sociais para as próximas décadas. Os economistas Carlos Medeiros, professor titular do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pedro Rossi e Lucas Teixeira, ambos professores do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), abordaram os resultados dos estudos desenvolvidos para a iniciativa Brasil Saúde Amanhã – publicados como Textos para Discussão disponíveis em acesso aberto no portal Saúde Amanhã. O coordenador das Ações de Prospecção da Fiocruz, Carlos Gadelha, que é líder do grupo de pesquisa Desenvolvimento, Complexo Econômico-Industrial e Inovação em Saúde, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), comentou o recente volume do periódico Cadernos do Desenvolvimento, intitulado “Desenvolvimento, saúde e mudança estrutural: o Complexo Econômico-Industrial da Saúde 4.0 no contexto da Covid-19“.
A abertura foi conduzida por Paulo Gadelha, coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, que reforçou a importância da produção científica da iniciativa Brasil Saúde Amanhã. “Pensando pelo viés dos historiadores, muitas vezes, nos referimos a cenários previstos como o passado de futuros possíveis. O que podemos colocar como alternativas possíveis se realiza a partir dos debates entre visões do presente, passado e futuro”, avaliou o sanitarista. O coordenador executivo da iniciativa Brasil Saúde Amanhã, José Noronha, dirigiu a moderação do diálogo acerca das consequências da Covid-19 na economia global, os efeitos na economia nacional e as transformações tecnológicas, econômicas e sociais no pós-pandemia.
Ontem, hoje e amanhã: processos geopolíticos após a Covid-19
Carlos Medeiros interpretou os cenários geopolíticos em curso no mundo e a radicalização desses processos em meio à crise sanitária. O economista abordou as tensões entre Estados Unidos e China, com a ascensão chinesa e sua busca por autonomia da hierarquia monetária, as possíveis mudanças de modelos econômicos e traçou comparativos da atual pandemia com o momento pós-guerra e a crise de 2008.
O autor do Texto para Discussão nº 53 finalizou sua apresentação analisando as projeções do mundo pós-pandemia, no contexto nacional, norte-americano, chinês e europeu. “As perspectivas que se colocam para a economia mundial vão depender do grau de sustentação de uma política expansiva keynesiana, uma defesa maior do estado de bem-estar social e o reforço da política industrial na busca de sistemas produtivos mais integrados e mais verdes”, concluiu Medeiros.
Entre o neoliberalismo, o trabalhismo, a globalização e a desglobalização
Pedro Rossi começou a exposição do TD nº 54 baseando-se nos cenários macroeconômicos possíveis para o Brasil e nas observações da conjuntura atual. A partir do mapeamento dessas incertezas, avaliou a disputa de duas principais agendas econômicas no país: a neoliberal, com a manutenção do teto de gastos, reformas estruturais e mercantilização dos serviços públicos; e a trabalhista, que trata da expansão dos bens públicos, restrição externa e reestruturação do Estado.
Lucas Teixeira complementou a fala de Rossi e destacou as projeções traçadas a partir das possibilidades da globalização 2.0 e da desglobalização conflituosa, alinhadas às agendas apresentadas no contexto da Covid-19.
“É fundamental entender o posicionamento das correlações de forças internas para saber qual agenda terá mais peso. Só em um cenário em que há uma certa fraqueza da força dos trabalhadores a agenda neoliberal poderá vigorar. Já no cenário trabalhista, apostamos numa correlação de forças favoráveis à agenda de crescimento, na qual os trabalhadores têm interesse”, finalizou o economista.
Saúde, bem-estar e sustentabilidade
Carlos Gadelha discutiu a integração das visões desenvolvimentista, na direção de uma mudança estrutural, e sanitária, com vistas ao bem-estar social, à democracia e aos direitos humanos. Apontou, também, a importância da relação endógena das dimensões econômica e social, alinhando a fala à perspectiva ambiental e as estratégias de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.“Devemos pensar na saúde e no bem-estar social como saída estruturante da crise, ou seja, esses elementos críticos em conjunto ao ambiente como forma de gerar renda, emprego, investimento e crescimento econômico”, ressaltou o autor.
Carlos encerrou sua exposição com a reflexão do impacto da 4ª Revolução Industrial e da pandemia na vida em sociedade e no aumento da desigualdade e defendeu a saúde como motor de desenvolvimento da economia e dos direitos sociais, humanos e ambientais.