O Brasil assumiu, em evento internacional realizado na sede da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) em Brasília, o compromisso de atingir metas para frear o crescimento do excesso de peso. O Encontro Regional para Enfrentamento da Obesidade Infantil, que contou com a presença de diversos países das Américas e organismos internacionais, foi feita no âmbito da Década de Ação das Nações Unidas para a Nutrição (2016-2025).

O Brasil assumiu o compromisso de atingir três metas: deter o crescimento da obesidade na população adulta até 2019, por meio de políticas intersetoriais de saúde e segurança alimentar e nutricional; reduzir o consumo regular de refrigerante e suco artificial em pelo menos 30% na população adulta, até 2019; e ampliar em no mínimo 17,8% o percentual de adultos que consomem frutas e hortaliças regularmente até 2019. “O Brasil vem perante a OPAS/OMS e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) apresentar seus compromissos públicos em relação à obesidade. Esses são compromissos oficiais para a Década de Nutrição”, afirmou a coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Michele Lessa.

A Representante substituta da OPAS/OMS no Brasil, Mónica Padilla, lembrou durante o evento, que o excesso de peso tem aumentado em toda a América Latina e Caribe, com um grande impacto na vida das crianças. “A prevalência de meninas e meninos menores de cinco anos com sobrepeso e obesidade aumentou nos últimos 15 anos, afetando atualmente 3,9 milhões de crianças da região. A maioria delas, para ser mais precisa, 2,5 milhões de crianças, está aqui na América do Sul”.

O diretor do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentação, Daniel Balaban, disse que o Brasil é um exemplo a ser seguido na área e elogiou o Guia Alimentar para a População Brasileira, documento feito pelo Ministério da Saúde em conjunto com a OPAS/OMS e a Universidade de São Paulo (USP). “Eu diria que o Guia Alimentar brasileiro é um dos mais ousados do mundo, porque enfrenta tabus e diz o tipo de alimento que deve ser ofertado para que as pessoas cresçam sem doenças relacionadas à má nutrição e alimentação”.

Segundo a Representante da FAO para a América Latina e o Caribe, Eve Crowley, é preciso recuperar a cultura culinária e juntar a boa alimentação com atividades físicas. “À medida que as pessoas passaram da agricultura à vida mais urbana, tornamo-nos mais sedentários. A globalização também levou a uma mudança de nossas dietas, de frutas e cereais para alimentos altamente processados”.

O presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, Silvio de Sousa Pinheiro, ressaltou a dificuldade em combater propagandas de alimentos para crianças. “A gente vai ao mercado com nossos filhos e são novas promoções, novas ofertas elencadas ao olhar infantil, instaladas na altura da criança”.

Nesse sentido, o ministro da Saúde do Brasil, Ricardo Barros, elogiou a regulação da publicidade e rotulagem de alimentos adotada pelo Chile, que informa melhor a população sobre, por exemplo, a alta quantidade de sal em um produto. Ele também afirmou que tem como desafio reeducar os brasileiros. “É preciso ensinar a população de novo a descascar mais e desembalar menos. É necessário que as crianças na escola sejam ensinadas a manusear os alimentos”.

Para o secretário Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, Caio Rocha, o Brasil tem posto a nutrição como foco de sua estratégia de desenvolvimento social. “Temos obrigação e compromisso de acabar com a fome e de garantir que toda a população brasileira tenha acesso a uma alimentação saudável”.

Década
Durante o evento, o diretor de Nutrição para a Saúde e Desenvolvimento da OMS, Francesco Branca, apresentou os principais pontos da Década de Ação das Nações Unidas para a Nutrição (2016-2025), proclamada em abril do ano passado pela Assembleia Geral das Nações Unidas. “O objetivo da Década de Ação é catalisar e facilitar o alinhamento de esforços coletivos que estão sendo feitos para erradicar a fome e acabar com todas as formas de má-nutrição, além de assegurar o acesso universal a dietas mais saudáveis e sustentáveis”, afirmou.

Panorama
O “Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe”, elaborado pela OPAS/OMS e a FAO, aponta que na América Latina e no Caribe, 7,2% das crianças menores de cinco anos estão com sobrepeso, o que representa um total de 3,9 milhões de crianças, sendo que 2,5 milhões moram na América do Sul, 1,1 milhão na América Central e 200 mil no Caribe.

A publicação mostra também que há várias experiências positivas na região. O Brasil, por exemplo, promulgou recentemente uma lei que proíbe a publicidade de substitutos do leite materno e regula a publicidade de outros alimentos voltados para mães e crianças de até dois anos.

Barbados, Dominica e México aprovaram impostos para as bebidas açucaradas. Bolívia, Chile, Peru e Equador contam com leis de alimentação saudável que regulam a publicidade e os rótulos dos alimentos.

Para ajudar os países a continuarem alcançando esses avanços, a OPAS/OMS desenvolveu um modelo de perfil nutricionalque identifica bebidas e alimentos com excesso de componentes críticos, como açúcares, sal, gorduras totais, gorduras saturadas e gorduras trans. Essa publicação auxilia os países na criação e implementação de estratégias para prevenir e controlar o excesso de peso.

Entre as boas práticas apontadas, estão: o uso de rótulos de alerta na parte frontal das embalagens; a restrição na comercialização de alimentos e bebidas pouco saudáveis para crianças; a regulação de alimentos e bebidas vendidos nas escolas; a definição de políticas fiscais para limitar o consumo de alimentos não saudáveis; a identificação de alimentos a serem fornecidos por programas sociais para grupos vulneráveis; e subsídios para reduzir preços de frutas frescas e vegetais.

Alimentação saudável
Para a OPAS/OMS, a base da alimentação deve ser feita de alimentos in natura e minimamente processados. Alimentos in natura são aqueles obtidos diretamente de plantas ou de animais e adquiridos para consumo sem que tenham sofrido qualquer alteração após deixarem a natureza, como folhas e frutos ou ovos e leite. Alimentos minimamente processados são alimentos in natura que foram submetidos a alterações mínimas, a exemplo dos grãos secos polidos ou moídos na forma de farinhas, cortes de carne resfriados ou congelados e leite pasteurizado.

Os alimentos processados (queijo, pães, geleias, frutas em calda) são produtos relativamente simples, fabricados essencialmente com a adição de sal ou açúcar ou outra substância de uso culinário como óleo, a um alimento in natura ou minimamente processado. Devem ser consumidos em pequenas quantidades e como ingredientes ou parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados.

Outra prática essencial é evitar os alimentos ultraprocessados, que estão fortemente associados a sobrepeso, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis. Entre eles, estão vários tipos de biscoitos, sorvetes, misturas para bolo, barras de cereal, sopas, macarrão e temperos “instantâneos”, salgadinhos “de pacote”, refrescos e refrigerantes, iogurtes e bebidas lácteas adoçadas e aromatizadas.

 

Fonte: Opas