Tendências epidemiológicas, mortes por causas externas e emergências sanitárias foram a tônica do seminário on-line “O Brasil depois da pandemia – Riscos, adoecimento e morte no século XXI: desafios para o sistema de Saúde”, promovido pela iniciativa Brasil Saúde Amanhã no dia 17 de maio, com transmissão ao vivo pela VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz. O debate contou com a participação do vice-diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, o pesquisador em Saúde Pública e docente da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho, o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) Paulo Nadanovsky e a professora de Epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) Maria Glória Teixeira.
O sanitarista Paulo Gadelha, coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, foi responsável pela abertura do seminário e manifestou a importância dos debates sobre prospecção de futuro para buscar cenários de recomposição em aspectos globais, econômicos e sociais após a crise de Covid-19. “Temos a possibilidade de discutir um tema candente, especialmente no bojo desse processo da pandemia, e colocar uma série de reflexões sobre a questão da saúde e suas ligações à Agenda 2030, à qual o Saúde Amanhã também se conecta”, afirmou Gadelha. A moderação foi conduzida pelo coordenador executivo da iniciativa Brasil Saúde Amanhã, José Carvalho de Noronha, que é pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).
O evento marcou o lançamento de mais três Textos para Discussão (TD) inéditos, disponíveis em acesso aberto no portal Saúde Amanhã:
TD 55 – Possíveis cenários epidemiológicos para o Brasil em 2040
(Jarbas Barbosa e Walter Ramalho)
TD 56 – Mortes por causas externas no Brasil: previsões para as próximas duas décadas
(Paulo Nadanovsky e Ana Paula Pires dos Santos)
TD 57 – Vigilância epidemiológica e emergências em Saúde Pública produzidas por agentes infecciosos
(Maria Glória Teixeira, Eduardo Hage Carmo, Ramon da Costa Saavedra e Maria da Conceição N. Costa)
Tendências epidemiológicas para o Brasil em 2040
Jarbas Barbosa e Walter Ramalho analisaram as tendências epidemiológicas da população brasileira no horizonte móvel de 20 anos. Barbosa dissertou sobre as taxas de mortalidade dos brasileiros, relacionando suas projeções ao terceiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, o ODS 3, que visa assegurar vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. O médico sanitarista também demonstrou iniquidades no acesso a serviços de saúde e sua intensificação pós-Covid-19, especialmente em relação a doenças crônicas, como diabetes e hipertensão.
“Apesar dos avanços dos serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a pandemia apontou seus problemas estruturais. Evidenciou a desigualdade social na saúde. Os dados de mortalidade e prevalência por Covid-19 no Brasil, na América Latina e nos Estados Unidos mostram que os mais pobres foram muito mais acometidos, devido à moradia precária, maior necessidade de circular em transportes públicos e outros vários motivos. A desigualdade foi muito aguçada”, concluiu o vice-diretor da Opas.
Mortes por causas externas no Brasil
Paulo Nadanovsky abordou mortes por causas externas, como homicídios, violência no transito e suicídio, mostrando taxas comparativas para cada cenário de futuro – em todos eles, destacou a grande presença de homens jovens, entre 20 e 29 anos.
“Se as tendências de melhoria nos fatores socioeconômicos dos últimos 40 anos continuarem, em especial a redução na concentração de renda, o Brasil reduzirá as mortes por homicídio. As mortes no trânsito dependem mais diretamente de legislação e fiscalização mais específicas, coibindo alta velocidade, consumo de álcool e direção irresponsável. As mortes por suicídios – pelo menos as notificadas – mantiveram-se estáveis e em níveis mais baixos que em países desenvolvidos, pelo menos os notificados. A prospecção de aumento da taxa de suicídios tende, entretanto, a gerar um aumento na quantidade de mortes autoinfligidas em homens idosos”, afirmou o docente.
Contextualização histórica de emergências em saúde pública
Maria Glória Teixeira percorreu a linha do tempo das maiores crises sanitárias da humanidade. “Observamos o aumento da ocorrência de epidemias e pandemias em decorrência da formação das cidades, onde a transmissão das doenças e dos agentes infecciosos é muito mais frequente, por exemplo, com maior recorrência de gripe e cólera, pela facilidade de transmissão entre pessoas em aglomerados urbanos, com maus hábitos de higiene e péssimas condições de vida”, apontou a professora do ISC/UFBA.
Em relação às perspectivas futuras, a médica epidemiologista recomenda que países, governos e populações voltem sua atenção à preservação dos ecossistemas, ao fortalecimento dos sistemas de saúde e à redução de desigualdades. “A única perspectiva de melhorar esse cenário tão nebuloso e obscuro que vivemos é fortalecer os sistemas de saúde públicos e universais, não só no Brasil mas em todo o mundo “, concluiu Maria Glória.