As inovações desenvolvidas pela equipe do Centro Viva Vida e Hiperdia/Fundação Dr. José Maria dos Mares Guia de Santo Antônio do Monte (MG) estão conquistando resultados relevantes para a saúde pública. Para ser atendido pelo Centro Integrado Viva Vida e Hiperdia, o usuário precisa ser encaminhado pela atenção primária do município de origem com a estratificação do risco da condição crônica. Aí é que entram as inovações: além de capacitar a atenção primária dos 13 municípios da microrregião, que cobre uma população de 433 mil pessoas, novas ferramentas do cuidado de crônico estão sendo implementadas pela equipe da atenção secundária.

Há quatro anos, o centro o utiliza o modelo de condição crônica (MACC) no cuidado dos usuários com diabetes, hipertensão, doenças renais crônicas, para detecção precoce de lesões percussoras de câncer de mama e de colo uterino, em gestantes e crianças de alto e muito alto risco. “Trabalhamos com porta fechada e não temos fila de espera. Os gestores dos municípios precisam entender que se eles não identificarem aqueles usuários crônicos que vão agudizar mais a frente, o município sempre terá aglomerações nas filas das unidades de pronto atendimento e hospitais”, conta a coordenadora assistencial do centro de referência Priscila Rabelo. A iniciativa está sendo acompanhada e avaliada pelo Laboratório de Inovação no Manejo de Crônicos, iniciativa da parceria entre Opas, Conass, Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais e a do município de Santo Antônio do Monte

Inovações

Atualmente, as tardes dos profissionais do Centro Viva Vida e Hiperdia de Samonte são reservadas para a capacitação das equipes da atenção básica dos 13 municípios da região. São aproximadamente 75 equipes da Estratégia Saúde da Família e 25 equipes de unidades tradicionais. Os profissionais são divididos por áreas temáticas e as equipes dos municípios são capacitadas de acordo com os protocolos de atenção adotados para o manejo de diabetes, hipertensão, entre outras doenças, além de crianças de até 1 ano e gestantes de alto risco. “Nós detalhamos como deve ser feita a estratificação de risco dos usuários na atenção primária porque quando o usuário chega ao Centro Viva Vida Hiperdia essa estratificação é confirmada pelo nosso médico”, conta Priscila Rabelo.

Um dia por semana, geralmente às sextas-feiras, são realizadas as supervisões nos municípios. “É quando os profissionais do Centro Viva Vida Hiperdia juntamente com um técnico da Regional de Saúde de Divinópolis vão checar que o que foi proposto nas capacitações está sendo cumprido”, diz Priscila Rabelo. “A gente mostra para os profissionais dos municípios que mediante a utilização do MACC eles tem condições de dar uma atenção adequada não só ao portador de condição crônica mas também para a demanda espontânea que bate diariamente às portas das unidades”, ressalta. “Nós sempre frisamos que é importante identificar essa população na atenção primária para que cada estrato de risco receba assistência adequada. O hipertenso de baixo risco não terá a mesma atenção do que o de alto risco. Isso a gente vê na literatura que gera iatrogenia médica e sobrecarrega o sistema”, diz Rabelo.

Ferramentas

As ferramentas desenvolvidas no Centro de Referência para o manejo dos usuários com condições crônicas podem ser consideradas como inovadoras, especialmente, por focarem o usuário, suas necessidades de saúde e ter uma equipe multiprofissional como retaguarda da assistência. “Nós trabalhamos com um cardápio de técnicas para mostrar para o usuário que ele é responsável pela sua melhora de saúde”, explica Priscila Rabelo. Entre as ferramentas utilizadas estão o grupo de pares, a atenção compartilhada, a consulta subsequente, as técnicas nutricionais e psicológicas, o plano de cuidado, o autocuidado apoiado, entre outras. “Nós convidamos as pessoas que se empoderaram do conhecimento sobre a doença que são portadoras, como diabetes, para conduzirem grupos de pares com usuários que estão com dificuldade de aderir ao tratamento”, relata.

Também utilizada no Centro a ferramenta da gestão de caso. “Nossa equipe de enfermagem, assistente social e médico vão buscar contato com a atenção primária no município para saber dos comunicantes porque a diabetes, por exemplo, não compensa. A gente descobriu, por exemplo, que uma idosa estava com medo de voltar a viver no asilo, caso a diabetes compensasse, porque ela queria ficar com a filha”, conta.

Resultados

Um dos resultados mais evidentes conquistado pelo Centro Integrado de Santo Antônio do Monte é a compensação da diabetes, em 77% dos usuários de alto e muito alto risco, verificados pelo exame da hemoglobina glicada. “É o exame da verdade. Esse exame laboratorial registra os três últimos meses de controle da diabetes realizado pelo usuário. Nossos pacientes chegam com uma hemoglobina glicada maior que 9, com uma diabetes muito descompensada. Já registramos usuários com até 18, sendo que o limite de medição do método é 19. A gente conseguiu estabilizar 77% dos nossos diabéticos com níveis ótimos verificados por esse exame”, comemora. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que um bom serviço de saúde especializado em diabetes tenha pelo menos 50% do seu usuários compensados no exame da hemoglobina glicada.

Outro resultado relevante da equipe diz respeito ao controle da hipertensão, com 94% dos usuários estabilizados. “É mais fácil estabilizar a hipertensão do que a diabetes porque é um tratamento mais medicamentoso, mas ainda requer mudanças no estilo de vida”, diz Priscila Rabelo. Ela também ressalta como vitória a ausência de registro de óbito de mulher e de crianças por causas evitáveis e atribui esse resultado a implantação do modelo de MACC no centro de referência.

Quando questionada sobre os gargalos na atenção aos crônicos da microrregião mineira, Priscila Rabelo não esconde a frustação com a falta de vagas na alta complexidade. “Infelizmente a maior dificuldade que enfrentamos é com demanda de alta complexidade. Quando a gente precisa de exames ou procedimentos da alta complexidade, como a colocação de stents para desobstruir a artéria, se depara com a falta de vagas. A gente vê o usuário com diabetes evoluindo para amputação devido à falta de acesso na alta complexidade”, relata com pesar a coordenadora.

Para finalizar, a coordenadora destaca a maior inovação realizada pelo centro de atenção secundária. “O maior objetivo do Centro de Integração não é só o atendimento adequado aos crônicos. É ser o maior capacitador de equipes de atenção primária sobre o modelo de manejo de crônicos, chamando para as equipes de APS que elas tem a responsabilidade de serem ordenadora da rede”, finaliza Priscila Rabelo.

 

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