O pesquisador Samuel Goldenberg, diretor do Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz Paraná), recebeu na noite da última terça-feira (9/5) o prêmio Almirante Álvaro Alberto. Considerada a mais importante honraria em ciência e tecnologia do país, a homenagem é concedida anualmente pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com a Fundação Conrado Wessel e a Marinha do Brasil.

O prêmio reconhece uma carreira de mais de 40 anos, sendo 35 destes passados na Fiocruz. Goldenberg coordenou a instalação da Fiocruz no Paraná e também dirigiu o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP). Sua área de atuação é a biologia molecular, com ênfase em estudos sobreTrypanosoma cruzi, o agente da doença de Chagas. Seus estudos levaram ao desenvolvimento da primeira patente internacional da Fiocruz, um kit diagnóstico para doença de chagas, em 1990.

Em seu discurso de agradecimento na cerimônia realizada na Escola Naval, no Rio de Janeiro, o biólogo agradeceu à instituição onde passou a maior parte de sua trajetória profissional. “A Fiocruz proporcionou as condições para que os eventos que me trouxeram até aqui fossem possíveis. Ela me ensinou, e ensina a todos os seus servidores, a importância dos valores democráticos, assim como a sermos melhores cidadãos, pois temos como foco e prioridade trabalhar em função desse grande programa que é o SUS. Ela incute nos servidores aquilo que chamamos de ‘orgulho de ser Fiocruz’”, disse.

Após agradecer ao CNPq, que o auxiliou desde a iniciação científica na graduação, há 46 anos, o pesquisador demonstrou preocupação com a situação da ciência no Brasil. “Não posso deixar de manifestar meu temor pela ameaça de destruição do patrimônio construído nos 66 anos do CNPq. A ciência brasileira, até poucos anos atrás objeto de honrosas menções na imprensa internacional, está hoje seriamente ameaçada pelos cortes orçamentários e pela falta de políticas que priorizem minimamente as atividades que asseguram nosso futuro”, afirmou.

“Foram feitos grandes investimentos na formação de recursos humanos e em prover universidades e centros de pesquisa com a infraestrutura necessária para que pesquisa de qualidade. Hoje tudo isso está ameaçado pelo sucateamento e pela falta de novos e contínuos aportes. Nossa pesquisa perde impacto quantitativo e qualitativo; e, o que considero pior, estamos perdendo investimentos em educação e formação de recursos humanos em ciência e tecnologia, voltando aos nefastos tempos da evasão de talentos”, acrescentou Goldenberg.

Em seu discurso de homenagem ao laureado, o ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, comentou as observações feitas sobre a pesquisa nacional por Goldenberg e outros oradores. “Sou solidário e testemunha do quanto infelizmente a ciência brasileira hoje carece de mais recursos. É evidente que não há uma única voz que [não] lamente falta de recursos adequados, para dar vazão à ciência brasileira e sua competência com estudos que precisam ser continuados e com trabalhos que precisam ser desenvolvidos”, afirmou. “Sabemos o momento difícil que estamos passando e o enfrentamento que teremos que fazer para que restrições possam ser corrigidas e para que possamos retomar patamar de investimentos que Brasil precisa para ciência, tecnologia e inovação”.

O ministro também saudou o homenageado. “Há pouco a acrescentar quanto sabemos que uma pessoa confunde sua vida com uma instituição como o CNPq, aqui reconhecido por todos. Que o senhor tenha a certeza do agradecimento de todos nós em nosso país. Aplaudimos sua vida, seu trabalho e a iniciativa de lhe concederem homenagem tão adequada. Nosso agradecimento, e que o Brasil possa continuar por muitos anos contando com sua capacidade de trabalho e inteligência”, disse Kassab.

Goldenberg já orientou 16 dissertações de mestrado e 19 teses de doutorado. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Protozoologia (SBPz, 2006-2008) e da Sociedade Brasileira de Genética (SBG, 2013-2014). Foi integrante do Comitê Assessor de Genética do CNPq, é coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Diagnóstico em Saúde Pública e é membro titular da Academia Brasileira de Ciências. Publicou 143 trabalhos científicos, seis capítulos de livros publicados e tem mais de 2800 citações na Web of Science.

A premiação, que se soma a outras honrarias concedidas ao longo da carreira, consiste em medalha, diploma, importância em dinheiro e uma viagem à Amazônia, a bordo do navio de Assistência Hospitalar na Amazônia, oferecida pela Marinha do Brasil.

Durante a cerimônia, também foram entregues os títulos de pesquisador emérito do CNPq e uma menção especial de agradecimentos ao Deputado Federal Sibá Machado (PT/AC), por sua atuação na aprovação em 2016 do Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação. Também foi realizada uma homenagem à presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, e a nomeação dos novos membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

O presidente do CNPq, Mario Neto Borges; o chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante de Esquadra Luis Guilherme de Sá Gusmão; o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Abílio Baeta Neves; o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Marcos Cintra; o Secretário de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Pedro Fernandes; o diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel, Américo Fialdini Junior; o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich; o Diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do CNPq, Marcelo Morales; e presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, entre outros, estiveram presentes.

 

Fonte: Fiocruz