Como as transformações da população brasileira irão impactar, em 20 anos, as demandas de saúde do país? Como o sistema de saúde pode se preparar para esses novos desafios? Para o professor de Epidemiologia da Universidade de Brasília, Walter Ramalho – que integra o grupo de pesquisadores do projeto Brasil Saúde Amanhã na área População e Saúde – , a palavra-chave para esta equação é informação. Nesta entrevista ele discute o papel dos sistemas de informação para a saúde pública e aponta possíveis rumos para o futuro brasileiro.

Qual o papel da Epidemiologia na definição de políticas públicas de saúde mais adequadas às novas necessidades da população?

A Epidemiologia tem como subsídio os sistemas de informação, que são estratégicos para avaliarmos e planejarmos os rumos do sistema de saúde. O Brasil tem uma grande quantidade de dados secundários, que nos permitem compreender melhor os grupos mais vulneráveis da população e as principais causas de adoecimento entre os brasileiros. A partir dessas informações, podemos tomar decisões mais acertadas para compor políticas de prevenção, promoção e assistência à saúde, em curto, médio e longo prazo, de acordo com as necessidades da população.

Neste contexto, qual a importância da construção de cenários prospectivos para a saúde?

Essa metodologia é muito promissora. Sabemos que em 20 anos o Brasil estará mais velho e o crescimento da população será mais lento. E é imprescindível que o sistema de saúde esteja preparado para este momento. Hoje já observamos o fechamento de leitos de maternidade justamente porque a demanda está diminuindo. Por outro lado, precisaremos de mais leitos para as doenças do aparelho circulatório e as enfermidades crônicas. O Alzheimer irá se destacar epidemiologicamente nesta nova sociedade – e como iremos cuidar destes pacientes? É possível desenvolver políticas de prevenção para que no futuro possamos reverter este quadro? É possível incentivar pesquisas para o desenvolvimento de terapias? Isso é o buscamos responder, antecipadamente, com os estudos de futuro. Defendemos que possíveis impactos podem ser minimizados se, desde já, priorizarmos agravos e reunirmos forças para agir de forma mais efetiva.

Além dos esforços realizados por pesquisadores, na academia, como gestores de saúde podem contribuir com este processo?

Como epidemiologista tenho priorizado os sistemas de informação como matéria prima para responder às minhas indagações; como professor, ensino esta abordagem aos alunos para que tenhamos gestores de saúde que utilizam, em sua prática diária, informações oportunas e relacionadas ao seu nível de atuação – seja local, regional ou nacional. Para que tenhamos estudos cada vez mais densos e precisos é importante que o sistema de informação em saúde possa captar corretamente os processos de morbidade e mortalidade da população. E, para isso, é fundamental a participação atenta e comprometida dos gestores e profissionais que atuam na ponta do sistema de saúde.

Quais os desafios de se trabalhar com cenários futuros?

Reconhecemos que o método tem imprecisões. Em 20 anos muitas inovações tecnológicas podem estar disponíveis, outras doenças podem emergir ou reemergir, crises econômicas podem surgir, as mudanças climáticas podem se tornar mais ou menos severas… Essas e outras variáveis podem ou não se concretizar e esse desenrolar impactará diretamente a situação do sistema de saúde. No entanto, um conjunto de decisões precisa ser tomado agora, para que em longo prazo possamos reverter um possível cenário mais adverso. Por isso, é importante que as políticas públicas sejam tomadas levando em conta cenários de curto, médio e longo prazo, com canais de discussão mais duradouros e maduros. Ainda temos pouca prática com estudos de futuro no Brasil, mas é importante lembrar que, neste exercício de elaborar cenários, percebemos que eles se tornam mais precisos e seguros quando instituições se dedicam a reunir pessoas e saberes em reflexões cada vez mais aprofundadas.

Marina Schneider
Saúde Amanhã
24/11/2014