O Representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil, Joaquín Molina, disse nesta quarta-feira (16) que as ações brasileiras para estimular o aleitamento materno são referência para o mundo. A declaração foi dada durante a cerimônia de lançamento da Campanha Doe Leite Materno, feita pelo Ministério da Saúde do Brasil e a Rede Global de Bancos de Leite Humano.

“O Brasil tem sido um exemplo para outros países e isso se deve às suas políticas, regulações, estratégias e iniciativas de educação para toda a população sobre a importância do aleitamento. Precisamos aqui dar os parabéns também às brasileiras, porque elas foram responsáveis por aproximadamente 90% da coleta dos mais de 1 milhão de litros de leite doados no mundo nos últimos anos”.

O aleitamento materno se relaciona de várias formas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), adotados em 2015 pelos 193 países-membros das Nações Unidas. No caso do ODS 1 (Fim da pobreza), a amamentação dá às crianças um melhor começo de vida, independentemente de ela nascer em um país de renda alta ou baixa ou que sua família seja rica ou pobre. Um estudo publicado no Lancet Global Health aponta que crianças amamentadas durante 12 meses em áreas urbanas do Brasil alcançaram na vida adulta rendimentos 33% mais altos do que os amamentados por menos de 12 meses.

Quanto ao ODS 2 (Fome zero), o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses ajuda a prevenir a fome, a desnutrição e a obesidade ao garantir todos os nutrientes e calorias necessárias para o crescimento e desenvolvimento do bebê. Após esse período, a OPAS/OMS recomenda que a criança continue amamentando, junto com outros alimentos, por até dois anos ou mais.

O leite materno também contribui muito para o alcance do ODS 3 (Saúde e bem-estar). Uma pesquisa publicada no periódico The Lancet afirma que a amamentação está associada a uma redução de 13% na probabilidade de prevalência de sobrepeso e/ou obesidade e uma redução de 35% na incidência de diabetes tipo 2.

O mesmo estudo diz que o leite materno contribui para um aumento médio de três pontos no quociente de inteligência (QI). Outra evidência científica mostra que crianças amamentadas por um período superior a 12 meses em áreas urbanas do Brasil completaram um ano a mais de atividades educacionais em comparação com aqueles amamentados por menos de 12 meses. Ambas as conclusões colaboram para as metas do ODS 4 (Qualidade na educação).

O direito à amamentação e ordenha em locais públicos, que se relaciona com o ODS 5 (Igualdade de gênero), também deve ser garantido à toda a população. Quanto ao ODS 8 (Trabalho decente e crescimento econômico), somente dez de 38 países nas Américas (Belize, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Panamá, Peru e Venezuela) concedem pelo menos 14 semanas de licença-maternidade, conforme recomendado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Esse cenário pode ser um empecilho para que o aleitamento materno seja feito conforme as recomendações da OPAS/OMS. E é prejudicial também para a economia dos países.

Um estudo publicado no American Journal of Health Promotion mostra que mães que amamentam se abstêm menos do trabalho do que as que dão fórmula infantil aos filhos. Isso porque os problemas de saúde das crianças alimentadas com leite materno costumam ser menos frequentes e graves.

Além disso, no México, estimou-se que os custos associados ao aleitamento materno inadequado em crianças nascidas em 2012 variaram de 745,6 milhões a 2,41 bilhões de dólares estadunidenses (pesquisa “The costs of inadequate breastfeeding of infants in Mexico“). Já nos Estados Unidos o fardo da amamentação abaixo do recomendado é de 13 bilhões de dólares para crianças (excluindo-se os efeitos cognitivos) e de 17,4 bilhões de dólares para as mães (estudos “The burden of suboptimal breastfeeding in the United States: a pediatric cost analysis” e “Cost Analysis of Maternal Disease Associated With Suboptimal Breastfeeding“).

Por fim, em relação ao ODS 13 (Ação contra a mudança global do clima), o aleitamento materno aparece como uma fonte natural e sustentável de nutrição e subsistência, que não polui o meio ambiente e exige poucos recursos. Em contraste, as fórmulas infantis se somam às emissões de gás do efeito estufa em cada passo da produção, transporte, preparação e uso, além de gerarem lixo. Dessa forma, só devem ser consumidas se forem realmente necessárias.

Sala de amamentação
A Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial da Saúde recomenda que os bebês sejam alimentados exclusivamente pelo leite da mãe até os seis meses e que a amamentação continue acontecendo, junto com outros alimentos, por até dois anos ou mais.

Por isso, a Representação da OPAS/OMS no Brasil criou em 2015 uma Sala de Apoio à Amamentação, onde a mulher pode esvaziar as mamas, armazenando seu leite em frascos. O líquido é mantido em um freezer a uma temperatura controlada. No fim do expediente, a mãe pode levar seu leite para casa e oferecê-lo ao filho ou doá-lo a um Banco de Leite Humano.

 

Fonte: Opas