Estudo produzido pelo Grupo FarmaBrasil (GFB), que reúne grandes farmacêuticas brasileiras com investimento em inovação, mostra que a importação de medicamentos biológicos cresceu mais de cinco vezes na última década, para quase US$ 2 bilhões. Em 2015, esses produtos responderam por pouco menos de um terço do déficit comercial do setor, de US$ 6,6 bilhões.
A tendência é desenhada pelo rápido envelhecimento da população brasileira, com crescente participação de idosos sobre o total e maior proporção de doenças relacionadas à idade. Assim, gastos com vacinação e tratamento pediátrico devem ser relativamente menores, com aumento proporcional dos dispêndios com tratamento da população madura. “É justamente nessa faixa que atuam os biológicos”, ressalta Arcuri.
Conforme o estudo, entre 2000 e 2005, o déficit comercial com biológicos foi de US$ 200 milhões por ano em média. De 2006 a 2010, saltou a US$ 800 milhões e, a partir de 2011, cresceu significativamente até atingir o pico de US$ 2,1 bilhão em 2014. No ano passado, caiu a US$ 1,9 bilhão, na esteira da desvalorização do real e da desaceleração da economia brasileira.
Para mitigar o aumento dos custos com saúde e, ao mesmo tempo ampliar o acesso a tratamentos médicos, o governo desenvolveu a política de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), para desenvolvimento e produção de medicamentos estratégicos ao SUS. Conforme o GFB, o Ministério da Saúde estima que projetos conduzidos por meio de PDPs devem gerar economia da ordem de R$ 5 bilhões ainda em 2016.
Por meio dessas parcerias, a indústria farmacêutica nacional vai começar a produzir biossimilares em maior escala no país. Como consequência, o déficit comercial deveria parar de crescer – com compras externas menores de medicamentos de alta complexidade – e as exportações de medicamentos aumentariam. Mas a crise política e trocas na equipe da Saúde estão atrasando, ou até mesmo paralisaram, alguns projetos.
Para a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), que reúne os laboratórios multinacionais, o avanço do déficit da indústria é sinal de que o país está perdendo a corrida pela competitividade internacional no setor. “Sem inovação, estaremos condenados à dependência tecnológica e econômica”, afirma em nota o presidente-executivo da entidade, Antônio Britto.
Os investimentos em biossimilares podem proporcionar redução temporária do saldo negativo, mas há risco de o lançamento de novos medicamentos tornar obsoletos esses produtos em uso. “Precisamos dizer que o Brasil se tornou inovador, responsável pela criação de tecnologias no setor farmacêutico que sejam atraentes mundo afora”, diz o dirigente.
Conselho Federal de Farmácia, 18/07/2016