“O presente não é um passado em potência, ele é o momento da escolha e da ação”. Com a citação de Simone de Beauvoir, o pesquisador Carlos Grabois Gadelha, coordenador das Ações de Prospecção da Presidência da Fiocruz, deu início à primeira edição da série “Debates Institucionais”, que na última quinta-feira, 16 de março, promoveu a aula aberta “Ano Oswaldo Cruz: perspectiva nacional e a Fiocruz do Futuro”, ministrada pela presidente da Fundação, a cientista social Nísia Trindade Lima. O encontro aconteceu na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e apresentou as iniciativas de prospecção estratégica do futuro em curso na Fiocruz, dentre elas, o projeto Brasil Saúde Amanhã, que desde 2010 articula uma rede de pesquisadores e instituições comprometidos com o planejamento de longo prazo do sistema de saúde brasileiro.

 

Nísia lembrou a função de advocacy que a Fiocruz desempenha na sociedade brasileira, em defesa da saúde como direito de todos e dever do Estado. “Este compromisso está em nossa gênese e precisa ser fortalecido nos dias de hoje para que possamos aplicar todo o conhecimento científico gerado em nossas unidades na forma de políticas públicas que garantam mais qualidade de vida à população. Acreditamos que a democracia deve ser, sobretudo, uma cultura: uma cultura que nos reconheça como iguais. Assumimos, portanto, uma agenda institucional e setorial que nos oriente na construção do país, da sociedade e do sistema de saúde que queremos construir”, afirmou.

 

Para a presidente da Fiocruz, pensar o futuro do Sistema Único de Saúde (SUS) requer o reconhecimento das novas e desafiadoras demandas de saúde da população brasileira, que passa por um processo de crescimento, envelhecimento e transição epidemiológica que se intensificará no horizonte dos próximos 20 anos. “Neste cenário, garantir o acesso universal, equitativo e integral da população brasileira a um sistema de saúde público e de qualidade requer uma perspectiva translacional da Pesquisa, do Desenvolvimento Tecnológico e da Inovação, alinhada à tríade Saúde, Desenvolvimento e Saúde. É preciso criar um vínculo indissociável entre a geração de conhecimento científico e as necessidades atuais e futuras da sociedade”, defendeu.

 

A cientista social chamou atenção, também, para o papel da Fiocruz no sistema nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). “Temos o desafio – e o compromisso – de promover a CT&I em benefício a sociedade. Isso significa reconhecer e desenvolver o Complexo Econômico e Industrial da Saúde (CEIS) como parte integrante do SUS. Precisamos, ainda, preparar a Fiocruz para a quarta revolução tecnológica, com conectividade em grande escala, processamento de big data e novas estratégias de educação permanente, que preparem os profissionais e gestores de saúde para a sociedade do futuro”, apontou.

 

Para a presidente da Fiocruz, a História e a perspectiva nacional são fatores indissociáveis deste processo. “A palavra-chave da atividade de prospecção estratégica é futuro. Mas, para realizá-la, é preciso prospectar passados, a partir da visão do presente. O passado também é construído social e politicamente. Por isso é tão importante revisitá-lo. Para elaborar horizontes possíveis, precisamos olhar para o passado e pensar o futuro a partir da construção do presente”, concluiu.